sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Sabedoria Taoista, um conto.

TA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2013

A sabedoria do camponês idoso (Conto Taoista)


"Havia na China antiga um velho camponês muito pobre, possuidor de um lindo cavalo branco, que até imperadores invejavam"…

Reis ofereciam quantias fabulosas pela compra daquele belo animal, mas o velho camponês recusava, e dizia:
- Este cavalo não é um simples animal a ser usado por mim, ele é como uma pessoa amiga. Como se pode vender uma pessoa, um amigo?

O homem era pobre, mas jamais o quis vender. E numa certa manhã ele descobriu que o cavalo não estava mais na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, criticando-o, e as pessoas disseram:

- Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor se o tivesse vendido. Que desgraça!

Imperturbável, o velho camponês, respondeu:
- "Não se precipitem nem cheguem a tanto. Digam simplesmente que o cavalo não está mais na cocheira. Este é o fato: o resto é julgamento. Se foi desgraça ou uma bênção ainda não se sabe, pois este é apenas um fragmento [de um Todo]. Quem pode saber o que virá a seguir?"

As pessoas riram do velho, julgando-o meio maluco. Quinze dias depois, numa certa noite o cavalo voltou. Não havia sido roubado, e sim fugido para a floresta. E, além do mais, trouxe consigo uma dúzia de cavalos selvagens...

Novamente as pessoas se reuniram e disseram:
- Velho você estava certo. Não se tratava de desgraça. Na verdade, provou ser uma bênção.

- "Vocês estão novamente julgando"... Falou o velho. "Digam apenas que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma bênção ou não? Este é somente um fragmento. Quando se lê apenas uma palavra de toda uma sentença, como se pode julgar o livro todo?"

Desta vez as pessoas nada podiam dizer; no íntimo, porém achavam que ele estava errado. Afinal de contas, doze lindos cavalos haviam vindo para a sua cocheira…
O velho camponês possuía um único filho, e este começou a treinar os cavalos selvagens. Uma semana depois, caiu de um dos cavalos e fraturou as pernas.

De novo as pessoas se reuniram e uma vez mais o julgaram, dizendo:
- Você tinha razão novamente. Na verdade, foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas e ele era seu único amparo na velhice. Agora está mais pobre do que nunca!

- "Vocês estão obcecados por julgamentos" – retrucou o velho. "Não se adiantem tanto. Digam apenas que o meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se esta é uma desgraça ou uma bênção. A vida vem em fragmentos. Mais do que isso não nos é dado saber"...
Aconteceu, porém que semanas depois o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. E só deixaram para trás o filho do velho, por estar aleijado. A aldeia inteira se lamentava; achava ser uma luta perdida e que a maior parte de seus jovens jamais voltaria.

E outra vez as pessoas vieram até ao velho e disseram:
- Mais uma vez tinha razão, velho; aquilo se revelou uma bênção para você. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está consigo. Mas, nossos filhos se foram para sempre…

- "Vocês continuam julgando apressadamente" – voltou a dizer o velho camponês. "Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército, enquanto meu filho não o foi. Somente Tao, a Totalidade, sabe se é uma bênção ou uma desgraça".